domingo, 24 de agosto de 2008

Marilda Confortin

A Invasora


© DE Marilda Confortin



Ninguém escolhe ser poeta.

É ela, essa herege,

quem elege ao bel prazer,

aquele que irá por ela morrer em vida,

ou nela eternamente viver.



É ela, essa divindade inconsequente,

quem invade sorrateira a mente

e insana deposita seus ovos

na chocadeira humana.

Gerá-la, é uma profunda agonia.



É um ser-estar em carne viva

num inferno escuro.

E o pior de tudo,

é que não há sincronia

entre o poeta e a poesia,

entre o recipiente e o conteúdo.



O que há é um descompasso,

uma falha de espaço

entre o tempo do poeta

e o tempo da poesia.



Há uma anomalia

entre o que ele é

e o que ele cria.

Não, não se enganem...



Não há um elo

entre criador e criatura.

O que há,

é um duelo,

uma (a)tensão constante,

porque a qualquer instante,

um pode trair, ferir,

parir

ou abortar o outro.

Nenhum comentário: