A Invasora
© DE Marilda Confortin
Ninguém escolhe ser poeta.
É ela, essa herege,
quem elege ao bel prazer,
aquele que irá por ela morrer em vida,
ou nela eternamente viver.
É ela, essa divindade inconsequente,
quem invade sorrateira a mente
e insana deposita seus ovos
na chocadeira humana.
Gerá-la, é uma profunda agonia.
É um ser-estar em carne viva
num inferno escuro.
E o pior de tudo,
é que não há sincronia
entre o poeta e a poesia,
entre o recipiente e o conteúdo.
O que há é um descompasso,
uma falha de espaço
entre o tempo do poeta
e o tempo da poesia.
Há uma anomalia
entre o que ele é
e o que ele cria.
Não, não se enganem...
Não há um elo
entre criador e criatura.
O que há,
é um duelo,
uma (a)tensão constante,
porque a qualquer instante,
um pode trair, ferir,
parir
ou abortar o outro.
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