segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Tonicato Miranda

De carne para carne
(para Jairo Pereira)

© DE Tonicato Miranda

veredas de poemas a você poeta
lhe dou uma alameda de buritis sagarânicos
à sua triste-e-alegre sina, também uma pedra, um bodoque
para que a atire ao címbalo madrugadino, anunciando
mais de cem mil e duzentos versos satânicos
recitados entre acordes clássicos, com jazz e rock
veredas de buritis e mosquitos a você poeta
e no dizer de Bashô: que ao menos sejam eles pequenos
pois a natureza é mesmo vária, solidária e antropofágica
pior são os gigantes olímpicos de força e de merda, aboiando
em novos coliseus se digladiando - pobres terrenos
lutam pela redução de marcas, mágicos sem mágica
veredas de meias mentiras envio a você poeta
deixa-me vampirar seu sangue quente e revoltoso
rolar em suas espheras estelares qual uma vaca voadora
perplexa com sua própria leveza, no céu flutuando
quem sabe montemos uma plataforma no espaço cosmoso
e nela sentemos com Clark para apreciar a roda 2001 inventora
veredas de nada e porções de nus desejo a você poeta
porque o nu é o todo, sendo o corpo a maior dádiva humana
deste postulado sabem leões, caranguejos e todos que têm carne
onde o rumo não é dado pela ponta do sapato, andando
mas pelo rigor do clima rufando os poros e pêlos, pele que se amaina
na ansiedade do contato de outra pele, que se irmana a outra carne

(Curitiba, 14/8/2008)


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Vesti Azul – Caminhei com você

© DE Tonicato Miranda




vontade de chorar sem lágrimas
um choro bem baixinho, querida
para não incomodar a não dor
de quem segue alegre pela vida


a noite já vai tarde, quase madrugada
ninguém está aqui, a sala está calada
nem mesmo sinto minha presença
estou só com meu fantasma, sou nada


tão triste esta sua ausência
ela dói por dentro como uma ferida
perdoa-me por lhe recusar anos a fio
este cachorro ansia por sua lambida


mas basta apenas um afago de mão
desmanchando meus cabelos ainda
eles por aqui, na minha cabeça branca
para me derreter e vibrar, seja bem-vinda


mas se quiser me recusar em vingança
tem todo direito e nada poderei condenar
eu que tão tolo fui ao não enxergar você
navegando por mim em qualquer mar


mesmo assim aceito simples migalha
um sorriso, um olá, um seio de Renoir
qualquer coisa que quiser me emprestar
para novamente vestir azul e passear


pela XV, nas ruas de Curitiba à tarde
assim como quem não tem pressa e vai
andando acima dos próprios pensamentos
nas ruas do seu coração: vem pra mim, vai


(Curitiba, 31/03/2008)

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