Angústia
DE João Batista do Lago
calaram-se:
o criador e a criatura!
o verbo não se lhes fora suficiente
para a tripudiagem da carne
que se lhes emanam de almas vagabundas
calaram-se:
o criador e a criatura!
agora tristes e insuficientes
perderam o tino a coragem e a vergonha
- não tenham medo de perder a opinião! -
os deuses são assim: feitos de ilusão absoluta
não tenham medo de perder santos e anjos
aqui no inferno vos dareis abrigos
aqui podereis espiar vossas miseráveis felicidades
e podereis ter a justa angústia de si
e a certeza da remissão de pecados
vinde, pois, criador e criatura
aqui vivereis com seus humanos
aqui sabereis da virtude dos demônios
seres encantados, mas reais profanos
adoradores das imagens sagradas
dos infernos mais profundos do ser
vinde, ó criador... ó criatura...
o vinho da poesia nos confortará
nele dissaparemos todas as dores
dele sairemos embriagados
e depois de torturados pelas ressacas da incompetência
haveremos de bebê-lo
e de novo dele renas-ser plenos de consciência
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Curitiba-Paraná-Brasil
25/08/2008
Um comentário:
A propósito desta minha poesia recebi o seguinte e-mail de minha amíssima poeta curitibana, Marilda Confortin, que me permito dividir a leitura com todos vocês.:
"querido poeta,
tua angústia é parecida com a minha... esse maldito desencontro em vida entre criador e criatura, entre poeta e poesia... e o maldito verbo queimando a carne...
Agonia
Acalentar a poesia
antes do seu nascimento,
quando ainda é pré-sentimento,
sob a pele, na saliva, no silêncio, sã
e ter parí-la em palavras
num idioma imposto
que a toma
doma,
dá forma
deforma,
dá nome,
e me abandona
anônima.
e outra assim:
No principio era o verbo.
e ao criador bastava a verve,
sem nada verbalizar.
Mas o verbo se fez carne
e habitou entre nós.
materializou abstratos,
quebrou silêncios,
moldou imagens,
pariu sons.
O verbo conjugou frases,
conspirou livros,
tratados,
enciclopédias
constituições...
E as palavras criaram penas,
leis, escolas, sentenças
e condenaram o pobre poeta
a sofrer de prisão de versos.
e muitas outras que coincidem, que exploram o mesmo sentimento, percorrem os mesmos caminhos... pois é amigo, temos algumas coisas em comum.
Beijo
Marilda Confortin
Recanto das letras - prosa, verso e poesia recitada
Curto e grosso - poetrix e otras cositas mas"
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