terça-feira, 26 de agosto de 2008

João Poeta do Brasil

Angústia

DE João Batista do Lago

calaram-se:
o criador e a criatura!
o verbo não se lhes fora suficiente
para a tripudiagem da carne
que se lhes emanam de almas vagabundas

calaram-se:
o criador e a criatura!
agora tristes e insuficientes
perderam o tino a coragem e a vergonha
- não tenham medo de perder a opinião! -

os deuses são assim: feitos de ilusão absoluta
não tenham medo de perder santos e anjos
aqui no inferno vos dareis abrigos
aqui podereis espiar vossas miseráveis felicidades
e podereis ter a justa angústia de si
e a certeza da remissão de pecados

vinde, pois, criador e criatura
aqui vivereis com seus humanos
aqui sabereis da virtude dos demônios
seres encantados, mas reais profanos
adoradores das imagens sagradas
dos infernos mais profundos do ser

vinde, ó criador... ó criatura...
o vinho da poesia nos confortará
nele dissaparemos todas as dores
dele sairemos embriagados
e depois de torturados pelas ressacas da incompetência
haveremos de bebê-lo
e de novo dele renas-ser plenos de consciência
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Curitiba-Paraná-Brasil
25/08/2008

Um comentário:

Unknown disse...

A propósito desta minha poesia recebi o seguinte e-mail de minha amíssima poeta curitibana, Marilda Confortin, que me permito dividir a leitura com todos vocês.:

"querido poeta,
tua angústia é parecida com a minha... esse maldito desencontro em vida entre criador e criatura, entre poeta e poesia... e o maldito verbo queimando a carne...


Agonia


Acalentar a poesia

antes do seu nascimento,

quando ainda é pré-sentimento,

sob a pele, na saliva, no silêncio, sã

e ter parí-la em palavras

num idioma imposto

que a toma

doma,

dá forma

deforma,

dá nome,

e me abandona

anônima.



e outra assim:

No principio era o verbo.
e ao criador bastava a verve,

sem nada verbalizar.



Mas o verbo se fez carne

e habitou entre nós.

materializou abstratos,

quebrou silêncios,

moldou imagens,

pariu sons.



O verbo conjugou frases,

conspirou livros,

tratados,

enciclopédias

constituições...



E as palavras criaram penas,

leis, escolas, sentenças

e condenaram o pobre poeta

a sofrer de prisão de versos.



e muitas outras que coincidem, que exploram o mesmo sentimento, percorrem os mesmos caminhos... pois é amigo, temos algumas coisas em comum.
Beijo


Marilda Confortin

Recanto das letras - prosa, verso e poesia recitada
Curto e grosso - poetrix e otras cositas mas"