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domingo, 24 de agosto de 2008

Marilda Confortin

A Invasora


© DE Marilda Confortin



Ninguém escolhe ser poeta.

É ela, essa herege,

quem elege ao bel prazer,

aquele que irá por ela morrer em vida,

ou nela eternamente viver.



É ela, essa divindade inconsequente,

quem invade sorrateira a mente

e insana deposita seus ovos

na chocadeira humana.

Gerá-la, é uma profunda agonia.



É um ser-estar em carne viva

num inferno escuro.

E o pior de tudo,

é que não há sincronia

entre o poeta e a poesia,

entre o recipiente e o conteúdo.



O que há é um descompasso,

uma falha de espaço

entre o tempo do poeta

e o tempo da poesia.



Há uma anomalia

entre o que ele é

e o que ele cria.

Não, não se enganem...



Não há um elo

entre criador e criatura.

O que há,

é um duelo,

uma (a)tensão constante,

porque a qualquer instante,

um pode trair, ferir,

parir

ou abortar o outro.

domingo, 17 de agosto de 2008

Olhar Cinzento [© DE João Batista do Lago]

Olhar Cinzento



© DE João Batista do Lago



e depois de tanta confusão

deram-me descansos os mestre

aí então pude olhar a janela do meu quarto

deu-me a impressão da porta de um cofre

cá dentro eu-segredo me guardo

e do outro lado da janela

até onde meus olhares se vão

não há revelações

lá fora está minha imagem vendo os quintais

e neles as leiras das dores

e os montes de misérias quantas

e tantas... e tantas e quantas

jorrando o pus

dos desesperados

vistos pelos meus olhos de olhares cinzentos

de um dia claro e ensolarado

melhor mesmo é ficar aqui dentro guardado

fechado no meu cofre

comendo palavras

amargas com doce de marmelada

o resto?

É só uma cagada

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Princípio, Meio e Fim [© DE João Batista do Lago]

Princípio, meio e fim

© DE João Batista do Lago


disse-me el diablo:
- rezo diariamente para o deus
peço encarecidamente
contritamente
que me livre de ti
não te o quero aqui no tártaro...
vai de retro
vai
vai
vai
não me corrompas o inferno
não quero o caos administrado


...então voltei ao sagrado
disse-me ele:
- penas como quiseres
entre céus e terras (e)
procuras teu reino e trono
acima e abaixo do mar já têm donos


manifesto:
- absurdo
como não ser como eles
como não ter poderes
vou mostrar a ambos
não sou refém da minha ambição
serei maior que os dois
terra terei por redenção


agora os dois me suplicam
el diablo: - alma alguma me quer agora
acabaram-se os encantos do tártaro...
o sagrado: - deixe-me os anjos e os santos
não os roube...
ambos então se ajoelham:
- poeta, perdoai nossos pecados
vem-nos completar a trindade
nem o uno
nem o outro
sejamos três: alteridade 

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Poesia do Aliterado [© DE João Batista do Lago]


POESIA DO ALITERADO



© DE João Batista do Lago



meu amigo

teu verso (in)criado é reino

linguagem de ausente fala

vasos de flores sobre túmulos



tua cabeça de burro

tua pela de leão

\o/

vontade tanta – pra quê?



tuas leiras de frases

tuas montanhas esquizofrênicas

tremeluzir megalomaníaco

esconde sob pele de leão

ouro Equus asinus



tua crina

dna de escuridões

adorna

denuncia

falencia

caixa de pandora

vontade tanta

esperança tanta

pra quê?



teu jardim

comercia excremento

dizes de tudo – o tempo todo –

novos tempos

tu regas (com)paixão

teu é catacumba

tua miséria

entoa tua valsa de sorte



tua vida atoa

teu carnaval difuso

teu desfile de verborreia

não consegue essência do leão

tua eterna perseguição: \o/



teu pedido

será configurado

grafado

regristrando eternidade

\O/

sob pele de leão

esquecimento

solidão

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Florbela Espanca [SONETOS]

QUE IMPORTA?..

  Eu era a desdenhosa, a indiferente.
  Nunca sentira em mim o coracao
  Bater em violências de paixao,
  Como bate no peito a outra gente.

  Agora, olhas-me tu altivamente,
  Sem sombra de desejo ou de emocao,
  Enquanto as asas loiras da ilusao
  Abrem dentro de mim ao sol-nascente

  Minh'alma,a pedra, tranformou-se em fonte;
  Como nascida em carinhoso monte,
  Toda ela é riso e é frescura e graca!
                 
  Nela refresca a boca um so instante...
  Que importa!...se o cansado viandante
  Bebe em todas as fontes... Quando passa?...
         
           
                        Florbela Espanca                         




        AMOR QUE MORRE

 O nosso amor morreu...Quem o diria!
 Quem o pensava mesmo ao ver-me tonta,
 Ceguinha de te ver,sem ver a conta
 Do tempo que passava, que fugia!

             Bem estava a sentir que ele morria...
 E outro clarao ao longe, ja desponta!
 Um engano que morre... e logo aponta
 A luz de outra miragem fugidia...

             Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
 Sao precisos amores, pra morrer,
 E sao  precisos sonhos pra partir.

          E bem sei, meu Amor, que era preciso
 Fazer do amor que parte o claro riso
 De outro amor impossivel que ha-de vir!

                Florbela Espanca



A NOSSA CASA

 A  nossa casa,Amor,a nossa casa!
 Onde esta ela,Amor,que eu nao a vejo?
 Nao minha doida fantasia em brasa
 Constroi-a num instante, o meu desejo!

        Onde esta ela,Amor,a nossa casa,
 O bem que neste mundo mais invejo?
 O brando ninho onde o nosso beijo
 Sera mais puro e doce que uma asa?

        Sonho...que eu e tu...dois pobrezinhos,\
 Andamos de maos dadas,nos caminhos
 Duma terra de rosas, num jardim,
 
          Num pais de ilusao que numca vi...
 E que eu moro--tao bom!-- dentro de ti
 E tu,o meu Amor, dentro de mim...


      Florbela Espanca



 NOCTURNO

   Amor!Anda o luar, todo bondade,
   Beijando a Terra, a desfazer-se em luz...
   Amor! Sao os pes brancos de Jesus
   Que andam pisando as ruas da cidade!

    E eu ponho-me a pensar...Quanta saudade
   Das ilusoes e risos que em ti  pus!
   Tracas-te em mim os bracos de uma cruz,
   Neles pregas-te minha mocidade!
  
Minh'alma que eu te dei,cheia de magoas,
   E  nesta noite o nenufar de um lago
   Estendendo as asas brancas  sobre as aguas!

                
   Poisa as maos nos meus olhos,com carinho
   Fecha-os num beijo dolorido e vago...
   E deixa-me chorar devarinho...
 

     Florbela Espanca


domingo, 10 de agosto de 2008

W3


© DE Tonicato Miranda


(anos plúmbeos e “aliás”)


W-3

em qual mês,

minha primeira vez?

Lembro de você, serpente

deitada desde o poente

até os limites da Torre de TV


W-3

todo mês

fez menino fez / fez menina fez

minha rua / minha tez /

W-3 / W-tez / toda sua / toda minha / um de cada vez

passo lento / passa vento / passa passa – W-3


W-3

era bom lhe ver

passear você e a cidade não ver

passar nas suas vitrines a ver

primeiras e últimas novidades

tentação feminina, limiar do querer


W-3

BiBaBo, Mocambo, Casebre 13,

lojas guardadas na sua rica caixa

uma delas Casa da Borracha, onde está

nos guardados não mais se acha?

queimou –se, virou fogueira, virou acha


W-3

centro comprido, reta pura

loja depois de loja, confundindo a procura

lugar de encontros e cursos de costura

escolas de datilografia; casas de fotografia

3×4, 5×8; dentistas com dentaduras na polia


W-3

cruzava-a todos os dias sem lhe partir

No rumo do CASEB e do Elefante Branco

Elefante que não solapava seus barrancos

Elefante Branco, Branco, Branco, Branco

distante um pouco dos seus muitos bancos


W-3

não tenho saudade de você avenida

nem das suas praças de cimento

pois ainda está aí, com todas suas feridas

no seu canteiro já teve retornos e carros

muito mais árvores, algumas muito floridas


W-3

querem agora lhe dar bonde moderno

pensam lhe remoçar como nova noiva

para a visita dos homens de terno

queira não, chama o povo a um beijo terno

diga que lhe apraz o céu mais do que o inferno


W-3

em qual mês,

minha primeira vez?

Lembro de você, serpente

deitada desde o poente

até os limites da Torre de TV


W-3

todo mês

fez menino fez / fez menina fez

minha rua / minha tez /

W-3 / W-tez / toda sua / toda minha / um de cada vez

passo lento / passa vento / passa passa - W-3