quinta-feira, 18 de setembro de 2008

PRELÚDIO


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PRELÚDIO

 

© DE João Batista do Lago

 

Sei-te senhor da sabedoria

Sei-te ordenador das luzes

Sei-te fonte de toda caloria

 

Sabes tão pouco do meu ódio

Sabes tão pouco da praga que te jogo

Quando surges, a leste, no teu exórdio:

Ladras manhãs que me roubam.

 

Prefiro teu epílogo quando queda no oeste!

 

Neste instante todas luzes brilham

Todas as estrelas cintilam e bailam sob os telhados

Todos os astros se acomodam

 

É quando surge minha aurora:

Desnuda!

Voa em minha direção e me abre os braços

- e as pernas! –

E num só enlaço me leva ao mais profundo dos mundos

Sol de todas as fontes de felicidades...

 

Mesmo que na manhã seguinte renoves teu discurso

- ainda assim –

Aguardarei o poente da tua sabedoria

Donde surgirá em beleza esplêndida

Nua

Carnuda

Desnuda

Trazendo-me todos os louvores e augures

A mais bela amante da minha alegoria...

 

(E cantamos na inteira noite o prelúdio das cigarras!)

 

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Nauro Machado

POESIAS DE NAURO MACHADO



Apenas uma Coisa


Existe amor?
Palpável como o dia,
como a matéria com que é feito o objeto 
chamado mesa, catedral ou baço 
nitrindo em tantas coisas?

Como amar
esta incorpórea substância carnal, 
este lampejo de chão no infinito? 
Existe amor?

Palpável como a terra? 
Debaixo ou sobre a terra, ainda carne, 
algum finado saberá do amor, 
essa chama votiva a brilhar ainda? 
Amou Torquato a Maria? Amou deveras? 
Digam-nos os anjos corcundas do além, 
a ave agoureira ao céu crucificada, 
o revoar de asas na papal coroa.
Amou Torquato a Maria, ainda carne? 
Ama Maria a esse pó apenas nome 
legado aos filhos como letra morta, 
como moeda gasta em mão mendiga? 
Chupando um dedo só, o amor se alimenta.





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Como te massacraram, ó cidade minha!
Antes, mil vezes antes fosses arrasada 
por legiões de abutres do infinito vindos 
sobre coisas preditas ao fim do infortúnio 
(ânsias, labéus, lábios, mortalhas, augúrios), 
a seres, ó cidade minha, pária da alma, 
esse corredor de ecos de buzinas pútridas, 
esse vai-e-vem de carros sem orfeus por dentro, 
que sem destino certo, exceto o do destino 
cumprido por estômagos de usuras cheios, 
por bailarinos bascos sem balé nenhum, 
por procissões sem deuses de alfarrábios velhos, 
por úteros no prego dos cachos sem flores, 
por proxenetas próstatas de outras vizinhas, 
ou por desesperanças dos desenganados, 
conduzem promissórias, anticonceptivos, 
calvos livros de cheques e de agiotagem, 
esses lunfas políticos que em manhãs — outras 
que aquelas já havidas, as manhãs do Sol —
saem, quais ratazanas pelo ouro nutridas, 
apodrecendo o podre, nutrindo o cadáver. 
Se Caim matou Abel e em renovado crime 
Abel espera o dia de novamente ser 
assassinado em cunha de rota bandeira, 
que inveja paira em Tróia ou em outro nome qualquer 
da terra podre e azul de água e cotonifícios? 
Mutiladas manhãs expõem-se nas vitrinas 
de sapatos humanos mendigando pés, 
de vestidos humanos mendigando peitos, 
de saias humanas mendigando sexos.
Esta é Tróia!, o vigésimo século em Tróia, 
blasfemam as fanfarras de súbito mudas 
nos ouvidos mareando a pancada da Terra.





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O Parto


Meu corpo está completo, o homem - não o poeta.
Mas eu quero e é necessário 
que me sofra e me solidifique em poeta, 
que destrua desde já o supérfluo e o ilusório 
e me alucine na essência de mim e das coisas, 
para depois, feliz e sofrido, mas verdadeiro, 
trazer-me à tona do poema 
com um grito de alarma e de alarde: 
ser poeta é duro e dura 
e consome toda
uma existência.





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Maldita a vida me seja, 
três vezes maldita seja 
a vida que me desastra 
e que por ser-me finita, 
três vezes seja maldita 
e amaldiçoada madrasta.

Quem me fez como um qualquer, 
dormindo aonde estiver, 
saiba deste desprazer, 
para sempre e desde saiba, 
para que o seu Ser não caiba 
na pequenez do meu ser,

que eu não pedi para estar 
com minhas pernas no andar, 
com minha emoção a sentir 
este universo que tapa 
a minha boca num tapa 
e a minha língua sem Ti,

essa coisa que fede a iodo, 
como a água do mar ou do 
envelhecimento o rim, 
essa coisa que derrama 
seu púbis velho de chama 
a extinguir-se quase ao fim,

corpo de Deus! Corpus Christi! 
Viste-O algum dia? Tu O viste 
sequer um dia como tu? 
Integral e à dor exposto, 
desde o cio ao suor do rosto, 
desde impotente até nu?

Os meus membros são crepúsculos! 
São sangue e iodo os meus músculos, 
é iodo e sangue a minha cruz. 
Por que não nasci não sendo? 
Por que, ao amanhecer, acendo, 
noutra treva, cega luz?

Se além da terra existe ar, 
se além da terra ainda há 
por menor que seja, um seja, 
como à noite volta o dia, 
como, ao corpo, o que o procria, 
como, em mim, meu ser esteja!

Dentro ou fora, qual gaveta, 
para que, em mim, o ser meta 
quem, em mim, é este meu ser, 
olho, em volta, à minha volta, 
e olho nada — só o que solta 
de qualquer um: quem ou o quê?

Nada é, pois tudo se sonha. 
E se alguém me falar: ponha 
tudo o que lhe resta, e resta 
no que, ao pôr-se, se me põe, 
para que em mim meu ser sonhe, 
vivo morto — e a morte empesta!

Como dar à vida pôde 
o nada ser que sou de 
outro feito pelo ser?
De outro ser, igual a mim,
mas de outro início a outro fim, 
noutra vida até morrer?

Ó envelhecer do meu estar! 
Da leitura de Balzac, 
de La Comédie Humaine, 
se passaram tantos anos 
nos malogros desenganos, 
sem disfarce ou mise-en-scène.

Bela Eugénie Grandet:
sois lembrança a anoitecer 
pelas tardes do meu Carmo, 
quem me traz a quem não sou 
na usura do pai Goriot 
que me a mim dá, para dar-mo

no meu duplo a ser mais dois, 
quais búfalos que são bois, 
ao mar meu a ser mais mar de 
ontem que ao ser-te, alma, foi-te, 
nas noites que são mais noite, 
nas tardes que são sem tarde.

Só me lembro das andorinhas, 
que hoje são luas-vinhas 
que iam e vinham às seis, 
só me lembro das sequazes 
na imprecisão de alguns quases, 
na distância de vocês!

Róseas ruas da memória, 
róseas ruas hoje escória 
que a soçobrar mais me sobe, 
afundai-me na lembrança 
hoje cravos da criança 
que meu cadáver descobre.

Como, à noite, acendo a lâmpada, 
para imitar (rampa da 
noite) uma inútil manhã, 
como o como que mais como, 
assumo, na idéia, o pomo 
da primitiva maçã.

Assumo o dia original.
Nascimento à morte igual, 
nascimento em morte assumo 
nesta página onde, em branco, 
minha vida inteira arranco 
do nada em que subi. E sumo.

E sumo a sós. Mas prossigo:
"na idéia é bem maior o trigo
que na boca o próprio pão, 
na idéia janto a sós, comigo, 
o pão real que mastigo 
feito de imaginação".

Azul manhã em contumácia! 
Negra noite, azul, te amasse 
a idéia sem pensamento, 
te amasse a própria Idéia 
reduzida a uma hiléia 
sem ar, floresta, rio, vento.

Locador de um condomínio 
frustrador de um hímen híneo, 
frustrador de um hímem são, 
locador que loca um louco, 
de carne e ossos sou reboco 
deste barro em maldição.

Tudo é farsa, menor dor. 
Sou, em mim, o que me sou 
desde o ventre que me fez. 
E contemplo a arraia, e raia 
dela, como de uma praia, 
a noite toda. Ei-la aqui. Eis:

andaime, sucata, ferro, 
vagido, vagina e berro, 
viatura e papelório, 
passa tudo, e é a viatura 
conduzindo à sepultura
meu ser morto. E sem velório.

Pois viu a terra e além bebeu-a, 
pois viu o tempo e disse: é meu, à 
solidão cerzindo a roupa 
onde, se me dispo, visto 
o sexo nu de algum Cristo 
que, despido, não me poupa.

Dez anos de coito cego 
são as metáforas que lego 
à solitária da escrita, 
aonde não chega ninguém 
exceto o vazio que vem 
de uma montanha infinita.

Ao ouvir da tarde: fracasso!, 
conquanto, vergando, os braços 
dissessem: pára, enfim finda! 
e morre, ó alma desgraçada, 
eu ousei retornar do nada, 
ousei retornar ainda.

Abandona, ó rei, abandona 
o abono de qualquer cona 
além do sangue e da queixa. 
Cerca a tua casa e a mura 
com o suor da tua estatura, 
e deixa o remorso, deixa-o!

Senhor do teu sofrimento, 
vai-te com o diabo e o vento, 
vai-te com a noite e o monte. 
E fala, ainda que mudo, 
que, do nada, igual a tudo, 
sobre ambos nasces. E põe-te!

Elimina todo se
da pretensão de existir 
na existência que é demérito, 
e no não haver nascido 
elimina-te existido, 
elimina-te pretérito!

Eliminar o talvez.
Não saber dia, hora ou mês, 
não saber até o minuto 
em que me vim sendo feito 
plantando a morte no peito 
e o espinhaço no meu fruto.

Por que o vemeversoverbo
da herbívora erva que eu erbo 
no meu plantio masculino, 
inverte o chão do seu galho 
arrancado do assoalho 
repicando como um sino?

Ter olhos-Deus! olhos-sóis
tem-no o Deus que cego a sós, 
tem-no o horizonte a pôr-se 
como colírio em dordolhos, 
tem-no quem me olha nos olhos 
como se cego eu já fosse!

Ah!, se a pedra me fizesse 
fazer-me cobrir quem desce 
à região do ser meu se, 
para não haver nascido 
ou o houvesse enfim já sido 
sem que eu dissera: nasci!





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Fila indiana


Um atrás do outro, atrás um do outro,
ano após ano, ano após outros,
minuto após minuto, século
após séculos, continuam

(a conduzir seus madeiros 
na perícia dos próprios dramas)

um atrás do outro, atrás um do outro,
ano após ano, ano após outros,
minuto após minuto, século 
após séculos, e de novo

um atrás do outro, atrás um do outro,
até a surdez final do pó.


De O Calcanhar do Humano (1981)





A sentença


Ó solidão, minha mãe
em toda parte do corpo,
meu escaler sem esperança
no oceano dos naufrágios.

Só as árvores estão vivas
no meu espírito que é morto.
Ó sinos, pombas errantes
no bronze da eternidade!

Remai, tempo de amargura,
às praias sem amanhã.
Ó solidão, minha mãe,
medusa erguida sem pai.





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Balança comercial


Troco sóis pelas naus,
os são pelos loucos troco,
na embriaguez com que soco
minha fúria no meu caos.

Tudo é uma questão de troca:
noves fora, restam nove,
até que outro alguém nos prove
que Deus é um dente sem broca,

que Deus é um maxilar 
independente do alvéolo
tal como independente é o 
ser do seu próprio estar.

Onde estamos não nos cabe,
onde estamos não comporta
a nossa alma que é uma morta
que do corpo nada sabe.

Ó desejo para fora
a romper-nos desde o dentro!
Ah, sairmos do nosso centro
para sempre e desde agora!

Abandonarmos casca e ovo,
abandonarmos a casca,
é um desejo que nos lasca
para quebrar-nos de novo.

Sermos gema, sem ser clara!
Sermos o Ser que É, não o que é
uma coisa chã e qualquer
nesta cara, a mesma cara!

Termos olhos, que são dois,
termos olhos, só dois a esmo:
troco tudo por uns bois
e até a alma comigo mesmo!

Troco tudo, como troco,
se trocar eu me pudera,
esta verdade quimera
do sonho com que me soco.


De O Signo das Tetas (1984)





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Prece à boca da minha alma


Não te transformes em bicho,
ó forma incorpórea minha,
só porque animal capricho
perdeu o humano que eu tinha.

Guarda, do animal, o alheio
esquecimento. E somente.
Mas lembra aquele outro seio
que te nutriu a boca e a mente.

E recorda, sobretudo,
que não babas ou engatinhas,
a não ser quando te escuto
pelos becos, dentre as vinhas.

Vive como um homem morre:
em solidão e na esperança.
guardando a fé que socorre
em mim, semivelho, a criança.

Mas não te tornes em bicho,
nem percas o ser humano,
só porque a tara (ou o capricho)
deu-me este existir insano.

De Do Eterno Indeferido (1971)



sábado, 30 de agosto de 2008







Joao  
Batista do Lago 


Coleóptero


© DE João Batista do Lago


Vasto-me de indivíduos-inseto

Desde a planície ao planalto

Vago em vôos rasantes

Perscrutando a presa fácil

Que me servirá de covil

Onde nem veredas mais há

Neste deserto que um dia foi floresta

- floresta de pau-brasil!


Vasto-me, assim, Coleóptero!

Voando com asas de estojo

Entre as éticas e as virtudes

Enfim, é preciso esconder o nojo

Que de mim fede como joaninha

Perfume de colarinhos brancos

Já encardidos pelas roubalheiras

- desta floresta jaz uma nação inteira


E de tantos indivíduos-inseto

Vasto-me não-conspícuo

Na inclareza das identidades

Sem ter por certo a pureza de formar

Desde a planície ao planalto

Uma nesga firme de caráter

Que me revele sujeito capaz de ter

- desta floresta! - toda virtude; todo poder!


O SUJEITO ÁPORO


© DE   João Batista do Lago


Cava dentro em mim

O inseto amargurado

Solitário em sua dor

Cava… e cava… e cava...

Cava silenciosamente

Desesperadamente só

Cava sem lamento (e)

Tudo que encontra: pó



Só ele vê as crateras

Onde reside o pus (do)

Ser: verme em vulcão

Humano: danado cão

Pois mesmo escavado

Não se dá por vencido

Assim convencido

Gera-se deus-inseto-cão


Metamorfoseia-se:

Orquídico em Fénix

Surgente das cinzas

Vê-se sujeito presente

- Inseto agora ausente –

Voltado das cavernas

Pretende ser gente (e)

Plantar orquídea à mente


biografia: 

http://joaopoetadobrasil.wordpress.com

brasilbrasileiro58@yahoo.com.br

Floreny Avila Ribeiro







Floreny Avila Ribeiro  
[Cônsul - Z-SSO-Porto Alegre-RS] 


RUA DOS CATAVENTOS

homenagem a Mario Quintana


Naquela ruazinha
em dias de vento
saias rodadas bailam
como cataventos.
Alguém passa, pára e olha.
E ali fica muito atento
saboreando tudo
sem se importar com o vento.
Ele é poeta
vagaroso é o tempo.
E aquela ruazinha 
de ondulantes ventos
é sua amada, sua namorada
a sua rua dos cataventos.


VENTOS ANTIGOS
poema premiado


Leves manhãs airosas
remontam a um passado
que nem sei se vivi.
Talvez, quem sabe, uma outra vida...
Não importa.
O que me trás, hoje, aqui
são esses ventos antigos
suaves aromas...
E apoesia derramando letras
compondo frases extraidas
de um tão profundo eu.
Só a ti confesso
poema
amigo
Saudade!
Saudade das manhãs
e ventos antigos.


BRINDEMOS...


Brindemos ao sol, à lua
ao mar, às praias brancas.
Brindemos às flores, aos pássaros
ao sorriso, à esperança.
Neste fim de ano
esqueçamos as dores
os sofrimentos, as angústias...
Esqueçamos as lágrimas de todas as mães
que perderam seus filhos [violência, cocaína...]
Esqueçamos as guerras 
pátrias em sangue, seus órfãos...
Esqueçamos a miséria, a fome
nossas lutas em vão
vitórias de Pirro...
Neste fim de ano
ergamos a taça e
brindemos à estrela cadente
que nos trouxe a luz.
A luz de um Ser
que nos ensinou o perdão
a misericórdia, a benevolência, a justiça...
E, acima de tudo, presenteou-nos com o Amor
[a maior de todas as dádivas].
Neste fim de ano
brindemos a Cristo!
Brindemos à esperança, de que sua Luz
aplaque a rigidez dos corações
que a fraternidade reine entre os povos
que saibamos saciar
a sede e a fome dos aflitos...
Neste fim de ano 
brindemos à Paz!
E, como Ele mesmo dizia,
'Que a paz esteja convosco'
e que possamos, enfim, dizer:
Amém!

Biografía:

Floreny Avila Ribeiro
, licenciada em Músiac pela UFRGS, é compositora, poetisa e declamadora. Há sete anos coordena o Acervo Mario Quintana da Casa se Cultura Mario Quintana [CCMQ], em Porto Alegre, ministrando palestras aos alunos da rede escolar [Projeto Palavra Viva]. É autora e coordenadora do Projeto Seresta na Casa, que acontece uma vez por mês, na CCMQ. Tem três composições [música e letra] gravadas no CD da cantora Naura Elisa, de Porto Alegre.

Participação em Coletâneas:

1997- PULSAÇÕES PARA O NOVO MILENIO - Ed. Alcance

1998 - GENTE DA CASA [da Casa do Poeta Rio-grandense] - Ed. Alcance

2000 - 5ª ANTOLOGIA DE ESCRITORES LOURENCIANOS [onde obteve o
primeiro lugar com o poema Ventos Antigos] - Ed. Hofstatter

2002 e 2004 - PALAVRAS [da Associação de Jornalistas e Escritoras do
Brasil-AJEB] - Ed. Evangraf

2006 - CASA DO POETA RIO-GRANDENSE [42 anos] - Ed. Alcance

floreny_r@yahoo.com.br 

Ilka Vieira







Ilka Vieira  
[Cônsul - Z-NNO-Rio de Janeiro - RJ] 


Maturidade
Ilka Vieira

Amadurecer
é um acúmulo de percalços,
mas é saber dos prazeres
e apostar cada vez mais na felicidade.

É um festival de vivências...
É sentir a tempestade
e se banhar na chuva.

Amadurecer é se saber só
diante dos experimentos
e poder optar 
em que estação saltar.

É ajustar o momento
sem coonestar..., sem se perder
das escolhas delineadas,
tão bem guardadas
para partilhar.

Amadurecer
é provocar um encontro
cara a cara com a vida
e, sem lástimas, levar dele 
a capacidade de reconstruir,
percebendo cada passo
das imperfeições.

Amadurecer é retemperar!

Larguei do Cais
Ilka Vieira

Larguei do cais...
Precisei embarcar sem doçura...
... não olhar pra trás...
... enaltecer a amargura,
arrepender-me jamais!

Larguei do cais
afogando meus sonhos flagelados...
... consumindo meus gritos reprimidos...
... transportando meu casco arranhado...
... rebocando sussurros não ouvidos...

Larguei do cais pré-condenada,
alvitrando erros cometidos,
tornando minha sentença invalidada,
por amor próprio compadecido

Alicerce Marinho
Ilka Vieira

Reinvade estas águas que 
obsecram pela tua moradia... 
Vem... 
Vem refogar teus temperos 
marinhos e embriagadores 
ao meu apurado paladar... 

Deixa que eu te descubra 
entre os mistérios 
da minha outra vida 
quando eu não marejava, 
apenas buscava-te pela minha secura 
em maré vazia... 

Refaz teu marco no meu fundo 
e apossa-se das minhas riquezas. 
Contigo não sofro 
o estalido da dor, 
cedo à tua tímida ternura 
lacrando minha correnteza. 

E antes mesmo que 
venha novamente guardar-me 
para o teu sonho mais lindo, 
abro-me para o teu repouso 
nos alicerces da 
nossa realidade: 
Tornei-me um oceano aberto, 
mas só tu cabes em mim...

biografia: 

Ilka Vieira,

nascida e residente da cidade do Rio de Janeiro. Administradora de Empresas ainda em pleno exercício de trabalho, reserva seus curtos momentos de lazer dedicando-se à poesia que além dela, escreve desde criança contos e histórias infantis. Publicou diversos artigos em técnica de treinamento para a área de saúde. Participou de alguns concursos literários, dos quais lhe honraram por brilhantes classificações. Escreveu Labirintos de Mulher em 2 volumes [livro virtual] editado pela Del Nero Bookstore.
Seus poemas poderão ser apreciados em seu próprio site:

http://www.ilkavieira.com

ilkavieira@globo.com

Malu Otero







Malu Otero  
[Cônsul - Assis-SP] 


LOBO COM DISFARCE

Como podemos avançar,
Se nos puxam o tapete?
Sai e entra governo, no lar
Do pobre, vive igual a gente

Em nós, a esperança nasce, 
Com o ano que recomeça,
Mas tanto lobo com disfarce,
E não há quem os impeça...

Mensalões e mensalinhos,
Lavagem de dinheiro à bessa.
Salário mínimo minguadinho,
Mas o congresso sai dessa...

Por si o político sabe legislar
Do bem do povo se esquecem
Até quando assim vamos estar?
Nosso voto eles não merecem!

Assis - São Paulo - BRASIL - 11/01/07

SEMBRADOR
Malu Otero

Él sembró esa mata
Tanto verde, tanta sombra
En verano...

Él sembró otras matas
Tanto amor, tanto calor
En invierno...

Él sembró muchas matas
Y cosechamos sus frutos
Todo el tiempo...

¡Cuánto recuerdo de su obra!
Tantas obras, tanto valor,
Infinito...

AUNQUE PASEN COSAS
Malu Otero

Aunque pasen cosas 
No dejaré de quererte
Aunque pasen cosas

Peleas y palabras duras
No pueden borrar el hecho
Y aunque pasen cosas,
Qué seas bruto o yo estúpida

No importa, no importa
Dividiremos el mismo techo
Aunque pasen cosas...
A la vez tabajo y vida

Y se sigue adelante
Siendo justos
Pase lo que pase

CONJUGACIÓN
Malu Otero

Él me perdió
Por eso, yo me perdí
Y te encontré.
Pero, Me equivoqué
Tú me perdiste
Ya no me encontraré.

biografia: 

Maria de Lourdes Otero Brabo Cruz,Nacida en Bragança Paulista, interior del estado de São Paulo, Brasil, a 12 de febrero de 1958. Como escritora assino MALU OTERO. Sou professora de espanhol na UNESP, Universidad Estadual Paulista. Trabalho na formação de professores de espanhol.
Vivo en Assis, São Paulo, Brasil. Escrevo desde 2000, poesias de amor [a maioria delas], poesia de crítica social, de escárnio... 
Tenho um site onde veiculo algumas de minhas poesias, bem como coloco informações da cidade em que vivo, da universidade em que trabalho e material didático por mim elaborado. O endereço do site é http://br.geocities.com/poesialuz/ Também tenho uma página web no Avpb - Academia Virtual Poética do Brasil, cujo endereço é http://www.avpb.olga.kapatti.nom.br/academicos_avpb/87_maria_lourdes_otero.htm Tenho poesias fazendo parte de inúmeras cirandas na internet, além de duetos, trietos, etc, o que configura uma escrita solidária, própria do nosso tempo. Tenho um livro publicado na Espanha, como premiação à minha tese de doutorado, que se intitula Etapas de Interlengua Oral en Estudiantes Brasileños de Español. Nele aparece uma poesia de minha autoria, Padre Mío que Estás en..., uma homenagem ao meu pai, que deu origem à minha produção poética.

brasilea45@yahoo.es

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Vários autores

CorpusJose Ignacio Prieto de Pico - El grito
El grito por Jose Ignacio Prieto de Pico.


A argila
Carne que perambula
Vermes – e alma –
Só tornará calma
Se argila tornar Ser

O barro não morre o corpo
Sedento de espírito vira anti-corpo!

E quando a morte se dera
Na alma do corpo que se fizera
Verás desta vida apenas quimera

Santificada seja a morte que me retorna à vida da terra!

Somente lá estarei concluído
Somente lá jamais serei vencido
Somente lá terei a paz sem guerra

 

João Batista do Lago

Heroínas

Cassandra

 

Já fui Ceci
envolta em plumas e penas.
O sonho de Peri.
Vivi delicias plenas

e suplícios,
transvertida em Lúcia.
Lucíola e seus
vícios.

Ressaca tomou-me os olhos
de Capitu.
Nadei em ondas revoltas.
Iracema de Caramuru.

Cabelos negros asa de graúna,
lábios de mel.
Nos confins do pampa.
Coxilha e céu.

Fui Ana Terra.
Fui Bibiana,
e no sertão Tereza.
Sempre Tereza...
Cansada de Guerra.

 

Sônia (Anja Azul)

 

Perdidos e achados num convés
Así será por Maria Eugenia Sampaoli
Así será por Maria Eugenia Sampaoli

Hei fantasma não quero mais brincar
Que graça tem brincar de fantasma?
Vento morno, esconde-esconde,
Quando minha vontade é de voar
Voar sete saias de alma
E sentir o coração disparar

Larguei esse baú no fundo das águas
Cansei desse baile de máscaras,
Dessa música de fundo, fundo de mar,
Das mil e uma cartas sem respostas,
E desse seu, apenas, conjugar de verbos

levo na mão a palma
-metade de um mapa-
Carrego o vento nos cabelos,
O olhar enigmático das fadas,
E pra semear, o amor entre os dedos

Trago as asas de um sonho que brotou nas minhas costas,
As flores de março, quadris da floresta,
Cravejado no coração da mata,
E do acaso as longas pernas

Abigail Brasil

 

Heloisa B.P.

*PENSEI QUE SABIAM*Aug 28, '08 12:09 AM
for everyone

[Imagem recolhida na NET. Se ferir alguns interesses autoriais, retirarei com minhas desculpas.]

VERSOS DISPERSOS
ANVERSOS/"PERVERSOS"

PERDIDOS NA NOITE DA MINHA
ALMA SEM COR
_SEM RUMO_
PERDIDA NA DOR!
................

Pensei que sabiam
Como me doi, mais que dor de doenca,
Sentir reinar no meio de vos
Uma estupida desavenca!

Pensei que sabiam
Como vos quero, amando-se
SEMPRE! E, assim,
Do mesmo modo, de quando eram criancas!

Pensei que sabiam
Quao dolorido
Meu coracao tem vivido
Que me interrogo, como tem ele sobrevivido!?…

Pensei que sabiam
Que nao sao os bens materiais
Que me movem e, sao mais valia;
Mas sim, vosso Amor e a Paz do dia a dia!

Pensei que sabiam
Que nao me interessam vaidades e “honrarias”
Mas, sim VOSSO SORRISO
Dando-me os BONS DIAS!

Pensei que soubessem
Que dou preferencia a minha morte
Se me derem por “vida”
O espelho da vossa intolerancia!

PENSEI QUE SABIAM
QUE, HOJE, MEU PIOR MAL
NAO E’ VELHICE E POBREZA;
MAS , OPTAREM POR(ou)FINGIR, NAO SE AMAREM

_NAO, NAO QUERO ACREDITAR!

_PENSEI QUE SABIAM,
COMO ME DOI, MAIS QUE A DOR DA DOENCA,
SENTIR, OU PRESSENTIR,
REINAR, ENTRE VOS, UMA ESTUPIDA DESAVENCA_!

_NAO, NAO QUERO ACREDITAR!
Contudo, eis o caminho mais curto, para minha vida ACABAR_!

_NAO!_NEGO-ME A ACREDITAR_!
………………………………
.................
Escrito em 27 de Agosto de 2008.
[Noite_MAIS NEGRA QUE A NOITE_!]

Bath.
H.

Jaime CARDONA HERNÁNDEZ






Jaime  
CARDONA HERNÁNDEZ 


ME DUELE LA PATRIA

Me duele la patria,
La patria proscrita,
La que le arrancaron
Humanos derechos,
La que no conocen los acaudalados
La que siempre paga los impuestos caros,
Que nunca la educan por falta de plata
Ni salud recibe, ni tierra, ni casa.
De quien sólo esperan el feudo cumplido
La que sangra y gime y pide justicia
Sin ser escuchada, sin ser atendida.
Esa que recorre ciudades y aldeas
Que acaso le queda siquiera esperanza
Porque con la guerra ni eso le han dejado.
Lo que sí ha crecido, son los cementerios,
Discapacitados se cuentan por miles,
Huérfanos y viudas, desaparecidos,
Las cárceles llenas, cientos de mendigos
Hurgan las basuras buscando un mendrugo
Para tan siquiera entretener la vida
Esa que la forman los que se quedaron
Sin patria y en ella muriéndose de hambre
Formada por niños tan flacos y pálidos
Que sólo los ojos le quedan brotados
De mirar al mundo cruel al que llegaron.
Me duele la patria.
¡La patria proscrita!

DESPLAZADOS

Dejaron sus casas, sus casas queridas,
Salieron huyendo, tristes, afligidas,
Eran las familias que, despavoridas,
Se fueron de noche por salvar sus vidas.
Solos van en marcha, parecen fantasmas,
Ella y él, tres hijos, y también el perro
No dicen palabra, se han quedado mudos,
Tan sólo se miran, sollozan, suspiran.
Esto les ha dado en pago la vida
Dejando en sus almas profundas heridas.
Él, piensa, en el pueblo quizá nos reciban.
Ella, piensa en ellos, qué será sus vidas.
Ellos van soñando la ciudad impía,
Nos dará su halago, nos dará alegría,
Sin saber lo infame de su fantasía
La ingrata perfidia que en ella se anida.
Hasta el perro piensa, cándido, inocente,
Allá habrá perrillas que le den su aroma.
No sabe el incauto que allá no se asoma
Sino a la ventana de su amo, la mona.
Amanece un día de desdicha suma,
Sin café, ni arepa para el desayuno,
No hay ni agua, pues aquí es vendida
Las aves no bajan de los gallineros
Los huevos son caros, son blancos y hueros.
La casa ha quedado sin amo ni perro,
Todo es desolado, con gran desconcierto,
No se ven sembrados de maíz o fríjol,
La huerta no tiene flores ni hortalizas.
La campana alegre del pico y la azada
No ha vuelto a escucharse.
Lo que se oye ahora es sí la metralla,
Y el cañón terrible de los militares
Y de la guerrilla.
Qué pena que el odio cambiara la tierra,
En la que auguraban futuro feliz,
Dejando en las almas de los que miramos
Tristeza, abandono, querella y pavor.

LA CIUDAD

Enoc, así puso Caín a la primera,
Ciudad que construyera su genio intelectual
Y Lamec, el pariente del que fuera maldito
Le puso la cizaña y así comenzó el mal.
Es la ciudad ahora, lo digo sin dudar,
Productora del crimen, miserias y maldad;
Fábrica de basuras, de desechos y más
Cosas que ya no hay donde irlas a
amontonar.
Rodéanla tugurios, circúndala miseria,
Aunque su centro ostente belleza
empresarial.
Las torres que se elevan, airosas sin igual
Parece que clamaran por justicia social.
Despreciamos el campo tan sano, sin pensar,
Dejamos el riachuelo que parecía cristal,
El verde de los campos de frescura especial
Por el concreto duro que nos vino a asfixiar.
Aquí nos seleccionan, los de aquí y los de
allá,
Aquellos se merecen un lugar especial.
Planeación lo requiere, que se vea la ciudad,
Ordenada y conforme, con la necesidad.
No importa si los muchos se van quedando
atrás
O los que tienen hambre se les siente llorar,
Lo primero es primero, así es la humanidad
El progreso, imposible, no se puede parar.

biografia: 
Jaime CARDONA HERNÁNDEZ

Nacido en el Municipio de Pueblo Rico, Antioquia en el año 1935.
Desde sus primeros años amó la lectura, comprando
frecuentemente revistas del Readers Digest y leyéndolas a la luz de
una vela.
Fue luego soldado de la república y unos años más tarde conformó
su hogar con la señora Teresa Quintana, del que nacieron cinco
hijos.
Radicado en el Municipio de Itaguí desde hace más de 40 años, trabajó
como obrero textil hasta alcanzar casi su jubilación, negociando
ésta para atender el llamado de Dios y dedicarse a la labor pastoral
en una iglesia cristiana.
Teniendo en su corazón el deseo siempre vivo de escribir, en sus
últimos años se ha dedicado a este arte, que más que ello, es su
forma de expresar cómo ve su entorno, como siente y como vive su
cotidianidad.
Estos sus poemas, son un legado a su familia y a su gente y son
finalmente , y lo más importante, una expresión de gratitud a Dios
quien le ha dado todo, por quien es y por quien existe.

Recientemente ha publicado, con apoyo de la Alcaldía del Municipio de Itaguí, su libro: 'TRASCENDENCIA' donde compila 246 de sus poemas inéditos.

João Poeta do Brasil

A Carne


© DE João Batista do Lago


Há monstros!
Monstrengos há!

Seus caninos afiados
feitos presas de javalis
vislumbram o ataque fatal...

Mas, depois de devorada a tartaruga
percebem o grande mal que a si fizeram:
suas carnes estão sendo comidas
pouco-a-pouco são corroídas
nos palácios dos seus ancestrais...

Paradoxo do mal
Gabali não mais lhes dará abrigos!

O ventre que se lhes gerara recusa a imolação
Será o javali santo ou assassino?

Na pedra da imolação
Terá que comer seu própiro ventre
Pensou engravidar-se da tartaruga
Mas, fez-se apenas oblação

Será o javali santo ou assassino?

Alexandra Botto







Alexandra  
Botto 


SIGLO XXI

Vivo en ti
en tu agujero de ozono
en la curva eléctrica de tu muerte
vía satélite
con una lata de refresco en la mano

y a control remoto.

LA ÚLTIMA EN VOLVER

Llegaré como la mujer de Otro
como la hija que abandona el pueblo
con la brida de mil sueños en sus manos
Con mi lágrima resbalando entre montañas hasta el carnaval de hienas y luces:

Monterrey esplendorosa
Estaré ahí una vez cumplida la profecía de mi carne

después que el amor transite calle abajo en la memoria
y no quede rastro del enjambre de erecciones predichas en mi horóscopo
Muerto el dolor
ante la estatua de sal que dejé inscrita con mi nombre
acudiré al deseo intempestivo de otros labios

Será nadie la mancha de tu cuerpo en la cama
será nada el pensamiento itinerante de los recuerdos 

La suite de aspecto animal
Dos y media de la mañana.
Los faros continúan arrastrando su luz por el asfalto 
y la oscuridad apilándose a los lados del camino.

No te das cuenta de tu rostro escarchado por los relámpagos,
de las ramas de tus cabellos suturando la electricidad del aire
y que transforman al viento en una llama transparente.

No hay cielo?
No hay tal.
La mariposa que soñó nuestros destinos dejó en tus alas el resplandor contagiado de mi fantasía.

Mis deseos acechan en tu cuerpo desnudo el vínculo carnal con mi conciencia.
No hay erección ? 
No, es un lirio blanco.
Ahora un sollozo confunde todas mis pesadillas y en el silencio encanecido de tu ausencia una idea abandona la tierra..

-Ya basta! Desconecten el neurotransmisor, curen las heridas de sus brazos, que permanezcan fijas las imágenes de su neurosis en la pantalla.

No lo acorralen, tampoco lo rasuren, que no escape.
Manténgalo en la zona emocional.
Si es necesario provóquenle una aurora boreal.

Faltan veinte minutos para un poema

Alexandra Botto

Biografía:

Alexandra Botto

Monterrey , Nuevo León 1964

alexandrabotto@aol.com
ale_botto1@yahoo.com.mx

Su trabajo poético ha sido incluído en varias antologías de cuento y poesía en España y México, traducido al inglés, y al rumano.
Ha participado en diferentes encuentros de poesía internacionales en Cuba, España y Estados Unidos.

Ha publicado en “ Tierra Adentro”, “ El Bhúo”, entre otras revistas literarias , periódicos nacionales y websites.

Fundadora del Proyecto Editorial Independiente Homoscriptum que apoya las ediciones de autor sin fines de lucro y que ha publicado 7 libros a la fecha, incluyendo una antología de poetas españoles contemporáneos .

Obtuvo mención de honor en poesía en el primer certamen de Poesía y Cuento de la Fundación para las Artes de Tepic, Nayarit, en 1992 y el segundo lugar del concurso de Cuento del periódico underground La Rocka , de Monterrey, N.L., en 2005.

Tiene publicado un libro de poesía “ Días de Viento ”

alexandrabotto@aol.com

ale_botto1@yahoo.com.mx

terça-feira, 26 de agosto de 2008

João Poeta do Brasil

Angústia

DE João Batista do Lago

calaram-se:
o criador e a criatura!
o verbo não se lhes fora suficiente
para a tripudiagem da carne
que se lhes emanam de almas vagabundas

calaram-se:
o criador e a criatura!
agora tristes e insuficientes
perderam o tino a coragem e a vergonha
- não tenham medo de perder a opinião! -

os deuses são assim: feitos de ilusão absoluta
não tenham medo de perder santos e anjos
aqui no inferno vos dareis abrigos
aqui podereis espiar vossas miseráveis felicidades
e podereis ter a justa angústia de si
e a certeza da remissão de pecados

vinde, pois, criador e criatura
aqui vivereis com seus humanos
aqui sabereis da virtude dos demônios
seres encantados, mas reais profanos
adoradores das imagens sagradas
dos infernos mais profundos do ser

vinde, ó criador... ó criatura...
o vinho da poesia nos confortará
nele dissaparemos todas as dores
dele sairemos embriagados
e depois de torturados pelas ressacas da incompetência
haveremos de bebê-lo
e de novo dele renas-ser plenos de consciência
----------
Curitiba-Paraná-Brasil
25/08/2008

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Tonicato Miranda

De carne para carne
(para Jairo Pereira)

© DE Tonicato Miranda

veredas de poemas a você poeta
lhe dou uma alameda de buritis sagarânicos
à sua triste-e-alegre sina, também uma pedra, um bodoque
para que a atire ao címbalo madrugadino, anunciando
mais de cem mil e duzentos versos satânicos
recitados entre acordes clássicos, com jazz e rock
veredas de buritis e mosquitos a você poeta
e no dizer de Bashô: que ao menos sejam eles pequenos
pois a natureza é mesmo vária, solidária e antropofágica
pior são os gigantes olímpicos de força e de merda, aboiando
em novos coliseus se digladiando - pobres terrenos
lutam pela redução de marcas, mágicos sem mágica
veredas de meias mentiras envio a você poeta
deixa-me vampirar seu sangue quente e revoltoso
rolar em suas espheras estelares qual uma vaca voadora
perplexa com sua própria leveza, no céu flutuando
quem sabe montemos uma plataforma no espaço cosmoso
e nela sentemos com Clark para apreciar a roda 2001 inventora
veredas de nada e porções de nus desejo a você poeta
porque o nu é o todo, sendo o corpo a maior dádiva humana
deste postulado sabem leões, caranguejos e todos que têm carne
onde o rumo não é dado pela ponta do sapato, andando
mas pelo rigor do clima rufando os poros e pêlos, pele que se amaina
na ansiedade do contato de outra pele, que se irmana a outra carne

(Curitiba, 14/8/2008)


-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-


Vesti Azul – Caminhei com você

© DE Tonicato Miranda




vontade de chorar sem lágrimas
um choro bem baixinho, querida
para não incomodar a não dor
de quem segue alegre pela vida


a noite já vai tarde, quase madrugada
ninguém está aqui, a sala está calada
nem mesmo sinto minha presença
estou só com meu fantasma, sou nada


tão triste esta sua ausência
ela dói por dentro como uma ferida
perdoa-me por lhe recusar anos a fio
este cachorro ansia por sua lambida


mas basta apenas um afago de mão
desmanchando meus cabelos ainda
eles por aqui, na minha cabeça branca
para me derreter e vibrar, seja bem-vinda


mas se quiser me recusar em vingança
tem todo direito e nada poderei condenar
eu que tão tolo fui ao não enxergar você
navegando por mim em qualquer mar


mesmo assim aceito simples migalha
um sorriso, um olá, um seio de Renoir
qualquer coisa que quiser me emprestar
para novamente vestir azul e passear


pela XV, nas ruas de Curitiba à tarde
assim como quem não tem pressa e vai
andando acima dos próprios pensamentos
nas ruas do seu coração: vem pra mim, vai


(Curitiba, 31/03/2008)

domingo, 24 de agosto de 2008

Marilda Confortin

A Invasora


© DE Marilda Confortin



Ninguém escolhe ser poeta.

É ela, essa herege,

quem elege ao bel prazer,

aquele que irá por ela morrer em vida,

ou nela eternamente viver.



É ela, essa divindade inconsequente,

quem invade sorrateira a mente

e insana deposita seus ovos

na chocadeira humana.

Gerá-la, é uma profunda agonia.



É um ser-estar em carne viva

num inferno escuro.

E o pior de tudo,

é que não há sincronia

entre o poeta e a poesia,

entre o recipiente e o conteúdo.



O que há é um descompasso,

uma falha de espaço

entre o tempo do poeta

e o tempo da poesia.



Há uma anomalia

entre o que ele é

e o que ele cria.

Não, não se enganem...



Não há um elo

entre criador e criatura.

O que há,

é um duelo,

uma (a)tensão constante,

porque a qualquer instante,

um pode trair, ferir,

parir

ou abortar o outro.